sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Os sentimentos de Lula


Não é novidade pra ninguém que o presidente Lula é um homem de sentimentos. Sempre foi assim. Apesar de ser um moleque na época, me lembro bem da campanha para as eleições presidenciais de 89. Foi uma campanha em que quase todos os 23 candidatos tentavam se distanciar do então presidente Sarney. E Lula não fez diferente. Como relembrou o Estadão em 9/8/09, naquela campanha Lula demonstrou seus sentimentos em relação a Sarney num discurso em que disse: "Nós sabemos que antigamente se dizia que o Ademar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Ademar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República".

(Apenas como cultura inútil, os 23 candidatos, recorde até hoje em eleições presidenciais, eram, por ordem de votos recebidos no primeiro turno: Collor, Lula, Brizola, Covas, Maluf, Afif, Ulysses, Roberto Freire, Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado, Affonso Camargo, Enéas, Marronzinho, Paulo Gontijo, Zamir Teixeira, Lívia Abreu, Eudes Mattar, Gabeira, Celso Brant, Antonio Pedreira, Manoel Horta, Armando Silva e Silvio Santos, cuja candidatura foi impugnada.)

Na série de lamentáveis episódios conhecidos como Mensalão, o maior escândalo político da história republicana no Brasil, confiança e pureza foram os sentimentos evidenciados na personalidade de nosso atual presidente. Confiança cega na dignidade de seus cupinchas, que nada tinham a ver com aquilo que Roberto Jefferson falava. Afinal, como afirmou José Dirceu, a Dilma da época, ao programa Roda Viva, “o governo Lula não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção”. Confiança em José Genoino, seu comparsa de longa data, que nada tinha a ver com os empréstimos criminosos feitos pelo PT, apesar de ser o então presidente do partido. A culpa era do mordomo, ou melhor, do Delúbio. Mais tarde, quando não foi mais possível defender o indefensável, o sentimento foi de pureza, no sentido mais infantil da palavra. Lula era puro porque não sabia de nada do que acontecia bem embaixo de suas barbas grisalhas e portanto era absolutamente inocente. E mais sentimento: se sentia traído por aqueles que um dia o sustentaram.

Mais recentemente, no entanto, Lula tem demonstrado, ainda que de forma sutil, outro sentimento perigoso: o desprezo pela justiça e pela ordem democrática. O apoio incondicional a Hugo Chávez – não obstante o suporte que este dá às FARC da vizinha Colômbia – e a admiração a Fidel Castro – até pouco tempo o ditador há mais tempo no poder no mundo – são claros exemplos desse desprezo. Também foi emblemático o esforço empenhado na defesa do “outrora ladrão” Sarney, quando Lula afirmou que o presidente do Senado – atualmente seu grande aliado político – não poderia ser julgado como uma pessoa comum porque tem passado. Ora! A justiça deveria ser igual para todos, com passado ou sem passado, seja lá o que isso queira dizer. Mas não para Lula.

Outros dois fatos ilustram ainda o sentimento acima descrito. O primeiro diz respeito à chamada Petro-Sal, empresa desnecessariamente criada pelo governo para administrar o petróleo e o gás natural brasileiros (afinal, o que faz a Petrobras mesmo, hein?). Descobriu-se recentemente que o nome Petro-Sal não poderia ser utilizado na nova estatal porque já está registrado em favor de uma empresa de sondas de Mossoró-RN. Pois bem. Hoje O Globo publicou uma declaração de Edison Lobão, ministro de Lula, afirmando que se o dono da marca não abrir mão dela patrioticamente, “mudamos a lei – e há tempo para isso”. Essa frase beira o inacreditável aos meus ouvidos.

O segundo exemplo vem da política internacional. Nos últimos dias noticiou-se que Lula garantiu a Sarkozy a opção pelos aviões-caças franceses Rafale – que ainda não ganharam uma única concorrência mundo afora – no robusto processo de fortalecimento militar brasileiro, conduzido por seu governo. A pergunta é: como pode o presidente dar essa garantia ao chefe de estado francês se o processo licitatório ainda não acabou? A resposta é simples: atropelando a ordem democrática. Talvez seja oportuno lembrar que cada um dos 32 caças franceses adquiridos sairá, segundo O Globo, a US$ 80 milhões. As outras alternativas, uma americana e outra sueca, sairiam a 60 e a 50 milhões de dólares, respectivamente. Mas não estou com tempo pra falar sobre este outro sentimento de Lula, o desgosto com os estudos e a matemática...

8 comentários:

  1. Marquinhos, vc está se saindo um grande colunista, tá pensando em mudar de profissão?

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  2. Bondade sua. Como colunista sou um ótimo desempregado!

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  3. Um ótimo colunista e conhecedor das mazelas da política suja do nosso pobre país.

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  4. Blogurgel já abordou assuntos futebolísticos, pincelou na liga profissional de basquete, analisou a situação sócio-econômica de Papua-Nova Guiné e demonstra coerência na análise do cenário político nacional. É praticamente uma revista eletrônica. Sinto vergonha pela inutilidade do meu blog sempre que entro aqui

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  5. Fala a verdade, Brunão! Os seus textos são muito mais engraçados!!!

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  6. Nosso dignissímo Presidente completa esse discurso sobre a compra dos caças franceses com a linda fras: "A decisão é política e estratégica, é do presidente da República e de mais ninguém." E também pretende comprar um belo submarino francês mais caro que outro alemão que é melhor e mais moderno.

    Abraço,
    Marcellus

    E agora humildemente pede voto para continuar suas obras - bastante significativas como "o assoreamento do rio São Francisco", e outras que qualquer governo faria - que convenientemente não terminaram no seu mandato.

    Gurgel, gostei muito do post, devo concordar com o Fraga que o seu blog é uma bela coluna.

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  7. engraçados e inúteis. acho que não sou formador de opinião hehehe

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  8. Só completando a info dos caças...os suecos ainda garantem a trasnferência de tecnologia!
    Acho que mais um desgosto de Lula foi com o estudo de ciências...

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